5 de maio de 2018

Dinkelsbühl debaixo de chuva

Depois do encantamento em Rothenburg, a próxima paragem na Estrada Romântica é Dinkelsbühl. Adoro o nome. O céu ameaça desabar mas o que é uma carga de água quando estamos felizes à descoberta?
Nunca aqui estive e, por isso, e contrariamente ao que sucedeu com Würzburg e Rothenburg, não venho aqui para mostrar o pitoresco da cidade ao meu marido. Venho descobri-la com ele e, nisso, estamos em paridade. Agrada-me a sensação da descoberta a dois porque, até agora nesta viagem, tenho desempenhado um papel de guia, de insider que lhe quer mostrar o seu passado e dar-lhe a conhecer espaços de certa forma familiares. Neste momento, sei tanto como ele sobre Dinkelsbühl. Dou-lhe a mão, ou dá-ma ele a mim e descemos abraçados a rua principal maravilhando-nos com as casas típicas coloridas e decoradas com desenhos nostálgicos de um passado pré-moderno e modernizado.
Os pingos começam a cair. Grossos. Primeiro espaçados até que se cerram em aguaceiro intenso que tudo lava. Recolho-me a uma papelaria a comprar uns postais ou uns ímanes para o frigorífico, os únicos souvenirs que hoje-em-dia levo das minhas viagens, excepcionando as decorações natalícias em Rothenburg que, a meu ver, não encaixam bem na definição genérica de souvenir. Já lá vai o tempo em que, percorrendo o mundo, chegava carregada de artesanatos, jóias e bugigangas de toda a sorte de feitio. Já não. Perdi essa voracidade (e já não tenho mais paredes nuas e prateleiras livres em casa para a exposição dessas conquistas). Agora bastam-me uns ímanes para a porta do frigorífico (que vai ficando sem espaço, confesso) e ficam as recordações materiais feitas.
Na papelaria, atende-me um senhor a sair da meia-idade. Queixo-me do tempo mas ele diz que não há problema. O sol vai regressar... para o ano. Traduzo para o meu marido que ignora o porquê do nosso riso. Sim, o sol regressa sempre.
Pago os postais e os ímanes e regressamos à chuva da rua. Pensando bem, é melhor rendermo-nos à evidência de que este tempo não está para passeios a pé e vemos o resto da cidade a partir do conforto do carro. Pode ser que regressemos um dia em que esteja sol.

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